NALDOVELHO
Eu sabia daquele homem que vivia numa casa
que ele achava sem portas e janelas. Não é que não tinham, mas ele não as sabia.
Andava de um lado para o outro, do quarto
para a sala, da sala para a cozinha e da cozinha para o quarto. Falava com as
paredes, contava a elas seus segredos e chorava seus medos, na vã esperança de
uma resposta, um conselho, uma ajuda. Mas as paredes emudecidas, ironicamente
sorriam.
Quase não comia, mas fumava muito, e muito
mais bebia, e quando dormia sonhava com caminhos de se revelar por dentro e com
rios de semear mundo afora.
Todas as manhãs o sol, assim que nascia, transpassava
as paredes e iluminava todo o interior, e ele sentado à mesa da sala imaginava
escutar uma valsa, e bailava, e bailava... Depois, inspirado escrevia poemas de
amor e dor.
Certo dia, cansado de sua tristeza, pegou a
palavra saudade que insistentemente atormentava seus versos, e num gesto de puro
desespero atirou-a contra a parede do seu quarto. Maravilhado percebeu que por
lá aquela palavra malvada abrira uma enorme fenda e a parede sangrava e por ela
um vento arruaceiro tentava invadir a casa.
Pegou então muitas outras palavras que há
tempos incomodavam, e atirou-as todas contra as paredes, que se antes ironicamente
sorriam, agora em escombros choravam.