NALDOVELHO
Às vezes o dia amanhece
faminto
e por mais que se lute contra
ele se alimenta de você.
E ao entardecer com olheiras
você se arrasta pelas ruas,
tropeça nas esquinas e bares,
escorrega e cai do meio fio
e sufocado em seu próprio silêncio
caminha noite adentro e
implora
que o dia que cruelmente o
devora
acabe ou então se esqueça de
você.
Às vezes o dia amanhece pra
dentro
e por mais que você lute
contra
nada do que acontece lá fora
diz respeito a você.
Dias passados sem graça,
com janelas e portas fechadas,
lágrimas choradas pra dentro,
poemas, rascunhos, lamentos,
e no passar lento das horas
você desconstrói o que não
tinha de ser.
Às vezes o dia amanhece pra
fora
e ainda que lhe faltem pedaços
devorados pelos dias de
outrora,
você caminha do quarto pra
sala
com a coragem dos dementes,
que buscam na poesia
argumentos
e ao abrir sua janela,
descobre,
que às vezes o dia nasce
sedento
da vida que existe em você.