sexta-feira, 29 de junho de 2012

SUBVERSÃO DA ORDEM (LUZ E SOMBRAS)


   NALDOVELHO

   Era um tal de escancarar portas,
   estabelecer cumplicidades com o tempo,
   espantar lembranças sombrias,
   subverter a ordem por dentro
   e revelar a todos o teu nome...

   Do parapeito de minha janela,
   passarinhada em festa aplaudia!

segunda-feira, 25 de junho de 2012

PALAVRAS POEMAS (LUZ E SOMBRAS)


    NALDOVELHO

    Eu tenho palavras pétalas
    e com elas construo caminhos,
    mas às vezes esbarro
    em palavras espinhos
    que ferem meu corpo
    e eu sangro o sangue dos tolos.

    Por isto cultivo palavras poemas,
    toda a vez que colho uma,
    parece que as coisas se ajeitam,
    fica mais fácil sobreviver.

terça-feira, 19 de junho de 2012

CAMINHO SAGRADO (LUZ E SOMBRAS)


   NALDOVELHO 
   
   Eu sabia que por ali passava um rio
   que ninguém mais conseguia ver,
   sabia das armadilhas,
   tocaias urdidas pelo inimigo,
   espinhos cravados na carne,
   cicatrizes que trago comigo.

   Eu sabia dos caminhos da inquietude
   e neles, aprendi o canto das tempestades
   que chegavam sem alarde
   e traziam memórias de um tempo
   de ferro, fogo, e loucura.
   Raízes do alvorecer!

   Mas também sabia da palavra fazedeira
   que sofria aprisionada num livro
   que poucos conseguiam ler,
   e no silêncio da madrugada,
   com ela tecia poemas...
   Memórias do meu renascer!

   E depois de nem sei quantos poemas,
   aprendi palavras de anjo, e com elas,
   depurei meu sangue, apazigüei minha alma,
   e ao poder enfim pronunciar Seu nome,
   caminhei pelo vale da morte
   e nada mais havia a temer.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

DIAS SEDENTOS (LUZ E SOMBRAS)

    NALDOVELHO

   Às vezes o dia amanhece faminto
   e por mais que se lute contra
   ele se alimenta de você.
   E ao entardecer com olheiras
   você se arrasta pelas ruas,
   tropeça nas esquinas e bares,
   escorrega e cai do meio fio
   e sufocado em seu próprio silêncio
   caminha noite adentro e implora
   que o dia que cruelmente o devora
   acabe ou então se esqueça de você.

   Às vezes o dia amanhece pra dentro
   e por mais que você lute contra
   nada do que acontece lá fora
   diz respeito a você.
   Dias passados sem graça,
   com janelas e portas fechadas,
   lágrimas choradas pra dentro,
   poemas, rascunhos, lamentos,
   e no passar lento das horas
   você desconstrói o que não tinha de ser.

   Às vezes o dia amanhece pra fora
   e ainda que lhe faltem pedaços
   devorados pelos dias de outrora,
   você caminha do quarto pra sala
   com a coragem dos dementes,
   que buscam na poesia argumentos
   e ao abrir sua janela, descobre,
   que às vezes o dia nasce sedento
   da vida que existe em você.