NALDOVELHO
Com o olhar fixo para o
firmamento,
ela voou com suas asas
de colher sentimentos.
Pousou no braço esquerdo
de um pequeno riacho
e no burburinho das águas,
matou sua sede e
sob a proteção de um rochedo,
adormeceu.
Sonhou com colibris,
araras e sanhaços,
conversou com um arvoredo
que existia por ali,
e abraçada a uma quaresmeira
aprendeu com os ventos
palavras fazedeiras de poemas.
Depois de um tempo,
voou de volta pra casa
com suas asas carregadas
de sentimentos.
Pousou num velho flamboyant
que existia em frente a sua
janela,
e de lá, perscrutou toda a cidade.
Quando anoiteceu,
voltou para o seu quarto
e ao se olhar no espelho percebeu
que nunca mais seria a mesma:
em seus olhos, vestígios daquele
riacho;
por dentro, a inquietude de um
arvoredo;
e de sua boca brotavam sementes de pé de vento.
Daquele dia em diante,
todos os dias ela se transforma
em pássaro,
às vezes com asas de firmamento,
em outras com asas de voar pra
dentro,
mas sempre com asas de colher
sentimentos.