quarta-feira, 31 de agosto de 2011

HEI DE MORRER JOVEM


   NALDOVELHO

   Hei de morrer jovem,
   na flor dos nem sei quanto anos,
   com as costas arqueadas
   pelo peso de uma vida,
   e as pernas enfraquecidas
   por trilhas, atalhos, estradas.

   Hei de morrer jovem,
   na flor dos meus desenganos,
   com os olhos, assim, embaçados
   por conta do quanto enxerguei
   e a pele toda enrugada
   pelo muito que semeei.

   Hei de morrer certamente,
   ainda que permaneçam os espinhos,
   pois embora não te pareça,
   jovem ainda estarei!
   Pois esta foi minha escolha,
   meu rito sagrado, minha lei.

   Hei de morrer qualquer dia,
   antes que seja tarde!
   Mas só quando acabarem os poemas,
   e tomara Deus que docemente!
   Pois por mais que eu tenha pecado,
   Ele sabe o quanto eu amei.

DAS PAREDES DAQUELA CASA


   NALDOVELHO

   Das paredes daquela casa
   gotejavam sentimentos,
   alguns se assemelhavam a lágrimas,
   outros mais pareciam suores
   brotados do esforço
   de se manter viva a memória.

   Das paredes daquela casa
   algumas gotas brotavam amargas...
   Paredes às vezes revelam decepções.
   Mas existiam sempre aquelas
   de natureza adocicadas,
   coisas próprias do coração.

   Nas paredes daquela casa 
   muitos registros, ranhuras,
   algumas mais pareciam rachaduras!
   O tempo gosta de deixar cicatrizes,
   e em cada uma delas um poema
   que eu ainda não sei como escrever. 

ANJO INOCENTE

   

   NALDOVELHO

   Anjo ferido na beira do abismo,
   não sabe que o colo que aquece padece,
   não sabe a criança de olhar inocente
   que a mão que semeia também sabe ferir.
   Não sabe da farpa, da fuga e da fúria,
   não sabe da faca, do corte e do sangue,
   mas sente a dor da sede e da fome,
   ressecadas as lágrimas, nem sabe sorrir.

   Anjo inocente na beira do abismo
   não sabe seu nome, nem seu sobrenome,
   olhar embaçado, desesperançado,
   não sabe das águas, do trigo e dos sonhos,
   seu tempo é escasso, logo-logo partir.

   Armei um presépio lá em casa este ano,
   o Cristo era negro e morria de fome,
   na mesa sua carne, nos copos seu sangue,
   nas ruas do mundo a inconsciência do homem;
   transpassados os cravos, dilaceram suas mãos.
   Por mais que eu tente não consigo sorrir.

COISAS DA VIDA

    NALDOVELHO

    Limpo as feridas,
    esterilizo a pinça,
    retiro os espinhos.
    Todo o cuidado é pouco,
    feridas mal tratadas
    costumam infeccionar.
    Um antiinflamatório ia bem!

    Agora é só seguir adiante,
    cicatrizes permanecerão.
    Na mudança de tempo
    vão incomodar,
    só pra lembrar
    que a pele ainda é fina.

    No trato com as rosas,
    ainda que lindas,
    todo o cuidado é pouco...
    Coisas da vida!

AO ENTRAR TENHA CUIDADO

   NALDO VELHO

   Na varanda da frente,
   debaixo do capacho,
   na porta de entrada
   as chaves da casa.
   Ao entrar tenha cuidado,
   não me deixe fugir o gato!
   Da última vez
   deu um trabalho danado,
   vadiou por três dias,
   voltou todo machucado,
   por conta das arruaças
   que por aí aprontou.
   Se descuidar, foge outra vez!
   Não se esqueça
   de cuidar das plantas...
   Atenção para não afogá-las!
   se molhar muito apodrecem,
   se não molhar esmaecem...
   É preciso saber o ponto exato,
   são demasiadamente sensíveis,
   qualquer gesto em excesso,
   correm o risco de morrer.

A LINGUAGEM DOS VENTOS


   NALDOVELHO

   Preciso aprender a linguagem dos ventos,
   que todos os dias invadem minha casa
   e fazem um estrago danado
   não sei se por necessidade,
   ou só para subverter.

   Talvez alguma mensagem,
   coisa trazida dos longes,
   notícia que seja alvissareira,
   talvez um novo tempo,
   sinal de que alguma coisa vai mudar.

   Um passarinho amigo,
   companheiro das manhãs de preguiça,
   disse-me assim derradeiro:
   quem sabe seja a hora de recomeçar!

   Preciso aprender urgentemente
   a linguagem dos ventos que trazem:
   inquietude, rebeldia, questionamento...
   Para poder compreender a mensagem
   que faz tempo eles procuram me entregar.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

SUAS SEMENTES

   NALDOVELHO

   E Ele nos disse que fecundaria rios
   que gerariam muitas vertentes
   que espalhadas pela Terra
   levariam águas sementes
   para matar a sede dos ímpios,
   e a fome dos dementes.

   E Ele nos disse que mandaria as chuvas
   que lavariam a alma dos céticos
   e transformariam a palavra herege
   em fonte preciosa do saber,
   e ainda que houvesse enchentes,
   Ele nos faria sobreviver.

   E Ele nos disse que traria o vento
   e com ele a dança do tempo
   no inevitável desgaste das pedras,
   dos braços, dos olhos, das pernas,
   para quando chegássemos a um termo
   colhêssemos o que fizemos por merecer.

   E Ele nos disse que acolheria seus filhos, 
   mesmo os em desvios perdidos,
   ou em rotas de cometer sacrilégios,
   pois haveria sempre um novo rio,
   um novo caminho, um novo tempo,
   ainda que levássemos milênios para compreender.

RUA DAS PROFESSORINHAS


   NALDOVELHO

   As mulheres daquela rua...
   Dizia o pai, professorinhas!
   Ensinavam o “b  a  ba”,
   o “dabliou”, o “ipisilone”.
   Tinha uma mais novinha
   a quem fiz juras de amor.
   E ela dizia, assim, baixinho:
   eu sou o mel de um beija-flor.

   As mulheres daquela rua,
   ainda as guardo na memória,
   tão bonitas, tão morenas,
   tão sozinhas, tão aflitas.
   Lembro a ordem de despejo.
   Nunca mais Maria Rita!

   Hoje, a rua é de passagem
   e as pessoas que por ali passam
   não percebem, nem se importam,
   casas frias e vazias.

   Ainda guardo o seu cheiro
   e a maciez dos seus cabelos.
   Nunca mais fui bom aluno,
   nem brinquei de beija-flor.

   As mulheres daquela rua...
   Dizia o pai, professorinhas!
   Ensinaram muitas coisas,
   a um aprendiz de amor e dor.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

RASTROS

   NALDOVELHO

   Rastros, vestígios de passos,
   são marcas, presentes deixadas pelo caminho,
   às vezes latentes, são os nossos segredos,
   por vezes evidentes como este poema.

   Procurei um amigo, só encontrei companheiros,
   parceiros ocasionais em trilhas circunstanciais.

   Melhor desligar o rádio, pois as músicas que tocam,
   mais parecem ritos tribais.

   Procurei uma amante, só encontrei exigências,
   ofertei um carinho, só encontrei reticências.

   Melhor desligar a televisão,
   as notícias da guerra só me trazem apreensão.

   Procurei semear sentimentos, encontrei solo estéril,
   pouca coisa germinou, quase nada floresceu,
   ainda assim valeu a pena pelo pouco que me restou.

   Procurei deixar minha janela entreaberta,
   só o vento frio e a chuva vieram me visitar.

   Melhor nem ler o jornal, são as mesmas notícias de ontem,
   de anteontem, de sempre...

   Melhor acender um cigarro, lá fora é outono
   e o dia amanheceu nublado.

   Ainda sinto o seu cheiro,
   e os seus vestígios estão vivos em meu quarto.
   
   Nas ruas a violência faz-se cada vez mais presente,
   as pessoas não se preocupam com rastros, parece que ninguém os vê!
   Melhor dizendo: ninguém os quer ver.

   E os meus rastros, meus passos, continuam latentes,
   apenas vestígios do meu caminhar apressado.
  
   Melhor ser feito pé de vento e ir ventar bem distante,
   quem sabe num lugar ensolarado,
   com terra fértil ao semeio das coisas que eu vim dizer.

QUERIA PODER ESCREVER UM POEMA


   NALDOVELHO

   Queria poder escrever um poema,
   um único e derradeiro poema,
   que falasse aos corações e mentes
   e que fosse capaz de transformar as pessoas,
   fazendo-as menos cínicas, menos frias e descrentes.

   Queria poder escrever um poema,
   um único e verdadeiro poema,
   que fosse capaz de nos revelar todo o mistério,
   que nos mostrasse que a alquimia dos tempos
   é o mais claro sinal da renovação.

   Queria poder traduzir em versos
   toda a magia de uma madrugada em seus braços,
   com lua cheia a testemunhar em silêncio
   coisas que a mais ninguém é dado o direito de ver.

   Queria poder escrever um poema
   que mostrasse a beleza do sol amanhecendo lá fora,
   todos os dias, já faz tanto tempo...
   Não conheço manhãs tão lindas como as que vi por aqui.

   Queria poder traduzir em palavras
   a nostalgia de um entardecer numa beira de praia,
   com brisa macia acariciando o meu corpo,
   e o barulho das ondas a emoldurar o silêncio... 
   Que bom que você é capaz de entender!

   Queria poder escrever um poema,
   um que fosse o mais contundente dos poemas,
   que pudesse nos mostrar em versos,
   uma fonte cristalina, uma nascente,
   águas de um rio, águas do mar,
   nuvens escuras, sinal de tormenta,
   chuva inclemente a fecundar a terra,
   a fertilizar o solo, a germinar a semente...
   No ciclo das águas um soneto a ressurreição!

   Queria poder escrever um poema,
   um lindo e definitivo poema!
   Como não posso e porque ainda não sei,
   só me resta rabiscar este texto, um rascunho apenas!
   Um projeto de poema que tomara Deus,
   um dia eu possa merecer escrever.

QUANDO EU FOR DONO DO MEU TEMPO


   NALDOVELHO

Quando eu for dono do meu tempo vou acordar todos os dias mais tarde e sempre na medida da preguiça por gosto que é pra não me causar desconforto. Vou tomar café da manhã sem pressa, ler as notícias, ficar sempre bem informado das coisas que por aí acontecem e que por viver apressado acabo tendo que ignorar.

Quando eu for dono do meu tempo vou caminhar pelos jardins da minha cidade, apreciar pássaros em festa e flores em animada conversa a exalar impunemente essências. E nas areias da praia que eu amo, organizar melhor o meu dia sob as bênçãos das águas do mar.

Quando eu for dono do meu tempo vou escrever muitos poemas, se a inspiração ajudar um romance, se não der, servem contos, histórias de uma vida de quem viveu aprisionado às horas, mas que nunca deixou de sonhar.  Vou pintar muitos quadros, de todas as cores em monocromáticos matizes; compor melodias, cantigas, choros, valsas e até um tango, bem visceral e profano, tipo Astor Piazzolla, nostálgico, bruxo e insano.

Quando eu for dono do meu tempo vou me dedicar mais a quem amo e trazer um muito de ternura, a quem por tantos e tantos anos, ao superar perdas e danos sempre esteve ao meu lado e me presenteou com um lar. Vou cuidar melhor da minha casa, vou abraçar e cultivar novos amigos e vou ter sempre uma palavra de carinho para com aqueles que eu consegui preservar.

Quando eu for dono do meu tempo vou querer anoitecer ao relento, tecendo teias ao vento com toda a poesia que eu tenho e finalmente realizar meu intento da lua poder namorar. Vou dormir todos os dias bem tarde, sem me incomodar com a nostalgia que arde, ou com a inquietude constante, pois foi ela que manteve viva a chama que brilha nos olhos do louco que ainda hoje existe dentro de mim.

Quando eu for dono do meu tempo, e espero que ainda haja tempo, vou fazer por merecer a ventura que a vida resolveu me ofertar.

PROCURA


   NALDOVELHO

   O que procuras pode ser encontrado
   nas caminhadas reticentes
   e é a origem de muitas cicatrizes,
   coisa que até hoje não se consegue explicar.
   E pode ser encontrado no momento da transição
   entre a noite e o dia, nas mais inconfessáveis heresias
   e no desentranhamento que a poesia é capaz.

   O que procuras pode ser percebido
   nos olhos, no gestual do corpo,
   nos sinais presentes na mente
   e em pequenos e preciosos detalhes,
   coisas a se interpretar.
   E são coisas que sobrevivem
   em segredo e refúgio, lá dentro,
   lado esquerdo do peito
   e determinam o pulsar de um tempo.

   O que procuras não pode ser visto
   com olhos de ver, só com os de perceber,
   e também pode ser encontrado
   na força inclemente dos ventos,
   no ciclo sagrado das águas,
   no veneno que quando não mata traz cura,
   na existência que transcende a vida;
   e são memórias, histórias, vivências,
   coisas tantas e às vezes tão pequenas,
   difíceis até lembrar.  

   O que procuras é trajetória sagrada 
   por caminhos profanos,
   é recomeçar a cada instante 
   e atingir a compreensão.

POEIRA


   NALDOVELHO

   É o curso de um rio em direção ao mar,
   é um cardume de peixes vagando pelo oceano,
   é uma gota d’água se evaporando ao sol
   e as ondas do mar a lapidar o rochedo,
   é uma lágrima derramada por um amor perdido,
   é um grito de socorro no meio da vida,
   é uma estrela cadente em direção ao nada,
   é uma chegada a lugar algum,
   é uma partida pra lugar nenhum,
   é um barco sem porto, sem rumo,
   é um cais sem amarras, é uma nuvem cigana,
   é um coração calado, é um trem fora dos trilhos,
   é a minha voz sufocada, é a estrada e o corte,
   e os cacos de vidro espetados pelo corpo,
   é o café quentinho, depois o cigarro,
   madrugada ainda, noite de insônia,
   é o bar da esquina da rua lá de casa,
   é o jornal matutino e as notícias gritando:
   é o sangue na rua, é o menor abandonado,
   é o pivete armado e o espinho espetado na palma da mão.

   É um homem chorando, é outono...
   e as folhas caindo pelas ruas da cidade,
   e os meus olhos parados e a garganta engasgada,
   vida que segue na solidão do meu quarto,
   é a poeira na estante e os livros guardados
   e a mesma música a seduzir meus ouvidos,
   é o mesmo perfume trazendo saudades,
   é o sol que nasce todos os dias,
   é a lua amiga, companheira constante,
   é a sede, a fome e o sono,
   é a poeira e os cacos espalhados pela casa,
   é um homem cansado que insiste em sorrir,
   é a crença em Deus sempre presente,
   é a poesia e o sonho, defeito de um tolo,
   é a nostalgia presente em cada detalhe,
   é a semente plantada, esperança de vida,
   é a vida de um homem que acredita no amanhã.

domingo, 28 de agosto de 2011

MEU CORAÇÃO


   NALDOVELHO

   Meu coração ainda hoje se importa
   com a origem da minha dor,
   vive preso aos meandros de um rio
   a cata de histórias, memórias,
   para tirar delas seu sumo, significados.

   Meu coração ainda hoje se importa
   com as fases da lua,
   com o ciclo das águas,
   com o segredo dos ventos
   e com os mistérios do mar.

   Meu coração enlouquecido,
   contaminado pela incerteza,
   é espírito da pedra sendo lapidado,
   coisa áspera, embrutecida,
   prestes a se desintegrar.

MARCAS


   NALDOVELHO

   As marcas que eu trago faz tempo em meu corpo
   revelam caminhos, essências, meus gostos,
   revelam entregas, esperas, desgostos,
   poemas paridos transversos, revoltos.

   As marcas que eu trago faz tempo em meus olhos,
   revelam demandas, loucuras, espólios,
   revelam poemas, carícias, ternuras,
   segredos sagrados, intensas procuras.

   As marcas que eu trago ardidas na alma,
   revelam inquietudes que ainda destoam,
   revelam lagrimas teimosas que escoam
   em versos repletos, embora me doam.

   As linhas que eu traço, caminhos que eu faço,
   revelam que eu sou o senhor dos meus passos,
   revelam que o sonho de libertar-me dos laços,
   é razão, é sentido, principio e fim.

LUZ


   NALDOVELHO

   Por favor acenda a lâmpada,
   se não puder a lanterna,
   também serve à luz de vela,
   é que eu quero ver o teu rosto,
   me embriagar na nudez do teu corpo,
   depois, quero esquecer minhas mãos
   apaziguadas em teus seios,
   me embaraçar em tuas teias
   e sentir tuas presas enterradas em minhas veias,
   alimentar-te com o meu sangue
   e quero beijar teu pescoço,
   morder teus lábios, quero tua boca,
   sugar tua língua, beber teu suor, tua saliva...
   Quero todas as coisas indecentes,
   aquelas próprias entre amantes,
   quero olhar dentro dos teus olhos
   e te ver ter muito prazer
   ao ver toda a casa em chamas,
   por filetes em brasas espetados,
   por marcas viscerais, profundas marcas,
   dessas que nunca mais vão cicatrizar.
   Por favor, não deixa escurecer,
   mantenha a vela sempre acesa,
   não permita que surja o pecado,
   não deixa renascer o passado,
   nem permita que o futuro nos leve
   para algum lugar longe daqui,
   onde só restarão lembranças
   e nossos cortes não cicatrizados,
   que volta e meia vão arder,
   vão sangrar, vão doer...

FLOR DA MADRUGADA - LETRA DE MÚSICA


   NALDOVELHO

   Quantas coisas loucas sufocando o pranto,
   lua esmirradinha, coisa mais sem graça,
   abro a janela, noites de setembro,
   flor de abandono, faço um poema,
   falo de saudades, falo de você.

   É um tal de faz de conta dentro do meu quarto,
   vou abrir a porta, coisa mais sem graça,
   noite de inverno, corredor deserto,
   sinto o seu cheiro, e sinto o tempo inteiro,
   já nem sei dar conta, preciso esquecer.

   Nostalgia quando bate arde no meu peito
   e este é um defeito, coisa mais sem graça,
   chuva insistente, por fora e por dentro,
   e se eu bem me lembro, flor da madrugada
   quando nasce apronta, e eu quero amanhecer.

ETERNO É O MEU TEMPO


   NALDOVELHO

   Pelos caminhos eu percebo
   dobras, recantos, pequenos atalhos,
   testemunhos das minhas vontades,
   e do imenso amor que possuo
   pela vida que o tempo
   se apressa em consumir.

   Percebo lágrimas derramadas,
   partidas e chegadas,
   carícias verdadeiras,
   palavras derradeiras,
   dias e noites sem abrigo
   a espera do inimigo,
   pois estou certo que crescidos
   seremos como irmãos.

   Pelos caminhos eu percebo
   espinhos entranhados,
   cacos de vidro espalhados,
   farpas deixadas por aqueles
   que se diziam capazes,
   mas que embaraçados em teias
   sucumbiram em suas escolhas.

   Percebo sendas percorridas,
   muitas quedas, precipícios,
   e de naufrágio em naufrágio
   uma vontade inquebrantável
   de que alguma coisa sobreviva,
   pois eterno é o meu tempo
   e o infinito é o meu lar.