quarta-feira, 29 de maio de 2013

O OLHO DA RUA - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

    NALDOVELHO

   O olho da rua percebe
   aquele que caminha em silêncio,
   que enfrenta pecados e medos
   e traz na alma as marcas,
   cicatrizes, medalhas, segredos.

   Percebe quem não teme a morte,
   as sombras, os becos, a peçonha
   da mais insidiosa serpente,
   pois traz no corpo o antídoto
   e é mestre em desfazer feitiços.

   O olho da rua percebe
   a palavra que fortalece o espírito,
   a coragem daquele que sonha
   e com as mãos descortina caminhos,
   semeia a ternura e extrai os espinhos.

   O olho da rua percebe
   as coisas que o homem ignora
   e chora a perda daqueles
   que a boca do mundo devora.

terça-feira, 7 de maio de 2013

NA ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


    NALDOVELHO

   Na última sessão de cinema
   do poeirinha, lá perto de casa,
   personagens entristecidos
   aprisionados aos seus ais,
   num filme feito faz tempo,
   onde a mocinha na última cena diz:
   afinal, amanhã será um novo dia!

   Na última sessão de cinema,
   um jovem aprisionado as horas
   e de braços dados com a solidão,
   só sabe que chove lá fora,
   e que o pai da menina bonitinha
   não permite que ela namore,
   e acha que a dor de não poder,
   nem o vento e a chuva
   vão conseguir dissolver.

   Na última sessão de cinema,
   a vontade de não ir embora
   e um não saber como fazer direito,
   pois as esquinas são frias e desertas,
   e ainda que amanhã seja um novo dia,
   de que adianta, se eu não vou poder te ver.

   E no poeirinha, perto de casa,
   o lanterninha avisa que já é hora!
   e que o vento levou os meus sonhos,
   e fez com que surgisse um poeta
   que até hoje tenta escrever um poema
   que exorcize a última sessão de cinema,
   pois afinal, amanhã será um novo dia,
   quem sabe eu consiga te esquecer?