terça-feira, 29 de janeiro de 2013

LETRA DE MÚSICA - JOÃO


   NALDOVELHO

   Chorei!
   Deu um nó na garganta, eu chorei...
   Um aperto no peito, eu bem sei,
   só nos resta cantar os teus sambas.

   João!
   és madeira, és Nogueira, és de lei,
   tradição é o teu nome, eu bem sei,
   nesta roda de bamba, és o samba.

   E então!
   Vem um surdo mostrando a emoção
   da cuíca chorando um refrão,
   só nos reta então te aplaudir.

   João!
   Qualquer dia a gente se vê
   num pagode num morro do céu.
   Traz mais uma pra gente beber.
   João!

   Um tributo a João Nogueira.

LETRA DE MÚSICA - CHAMA O VELHO


    NALDOVELHO

   Tá devagar quase parando,
   muda teu rumo meu irmão,
   não dá pra ficar de bobeira,
   levando rasteira de quatro no chão.

   Tá devagar quase parando,
   muda teu rumo meu irmão,
   não dá pra ficar de bobeira,
   levando rasteira de quatro no chão.

   Lá na boca maldita a rapaziada
   já anda dizendo, chegou o Mané,
   Tião Nego Velho, mandou avisar,
   calcinha rendada coou teu café.

   Pois esta mulata te pôs um feitiço,
   fechou teus caminhos, te anarquizou...
   E chama o Velho!
   E acende uma vela pro teu protetor.

   E chama o velho!
   E acende uma vela pro teu protetor.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

AS FILHAS DE ALICE - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


    NALDOVELHO

   Conheci uma mulher,
   cozinheira de mão cheia,
   o nome dela era Alice
   e sabia um tudo sobre cheiros;
   o ponto certo do gosto
   e da vida o melhor tempero.
   Casou e descasou
   nem sei lá quantas vezes,
   tinha quatro filhas bonitinhas,
   todas com nome de rainha
   e eu já não aguentava tanta guloseima,
   doce de pera, melão e caqui,
   baba de moca, então!
   Coisa igual, eu nunca vi,
   foi uma merda sair dali!
   Gordo e pachorrento,
   vocês nem imaginam 
   o quanto eu sofri.

domingo, 27 de janeiro de 2013

O HOMEM QUE DOBRAVA ESQUINAS - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


    NALDOVELHO

   O nome dele era Luiz,
   mas às vezes,
   podia ser Toninho;
   gostava de dobrar esquinas,
   dobrou tantas 
   que um dia, desapareceu!
   Não sabia como voltava,
   nem o que lhe aconteceu.

   Certa feita encontrei-o perdido
   do outro lado da cidade,
   sentado no meio-fio pensava
   em como voltar para a rua onde nasceu.

   Sabia do mundo um tudo,
   mas não sabia quase nada
   de um mundo que era só seu.

   Pobre homem que dobrava
   as esquinas todas do mundo,
   voltar não podia mais,
   perdera a chave da porta
   e até seu nome esqueceu.

sábado, 26 de janeiro de 2013

A MENINA QUE GOSTAVA DE APRECIAR ESTRELAS - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


   NALDOVELHO

  Todas as noites aquela menina
  gostava de apreciar estrelas
  da janela do seu quarto.
  De tanto olhar, ela às vezes se enganava
  e vagalume mais parecia
  estrela em busca de aterrissagem.
  Aí ela ria sozinha a imaginar outras bobagens...
  E se uma estrela dessas trouxesse
  sementes de lua nova?
  E se vez em quando uma brotasse
  lá pras bandas do desassossego?
  E se a cada lua nova que houvesse,
  crianças nascessem poetas?
  Quantas outras bobagens 
  haveriam de ser escritas,
  num mundo certamente melhor!

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

ENTERRA UM, NASCE OUTRO - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


    NALDOVELHO

   E existia aquela rua,
   quase toda arborizada.
   Casas bonitas,
   muitas assobradadas,
   com seus jardins, com seus quintais.
   No final da rua uma capela,
   Santo Antônio dos Milagres.
   No segundo quarteirão,
   lado direito de quem sobe,
   número cinquenta e quatro...
   Cecília!
   Naquela casa,
   nem bem tinha feito dezoito anos,
   embaixo de uma amoreira,
   enterrei meu coração.
   Andava entristecido pelas ruas,
   serenatas patéticas, ardidas,
   dor de coisa descabida...
   Até hoje guardo as marcas,
   feridas que eu não escondo.
   É bem verdade que no oco do meu peito
   nasceu outro coração.
   E depois, mais outro...
   Com o passar do tempo, 
   muitos outros!
   Poeta é assim!
   Enterra um, nasce outro.
   E haja corações!

LETRA DE MÚSICA - NO COCHICHO DAS ÁGUAS


    NALDOVELHO

   No cochicho das águas,
   eu descubro a verdade
   sobre as fases de um rio
   e o paradeiro daquela
   que me causou arrepios
   e deixou de presente
   muitas coisas latentes...
   Toda vez que o tempo muda
   cicatriz volta a doer.

   No cochicho das águas
   eu procuro um caminho
   que me leve direto
   ao calor do seu ninho,
   que me traga o orvalho
   das noites de outono,
   lua cheia tem feitiços
   que me curam as feridas,
   seja lá como for.

   Chego bem de mansinho,
   vim buscar seu carinho,
   vim dizer que o meu corpo
   vive em busca do seu corpo,
   e que os meus olhos
   buscam sempre os seus olhos
   e que o tempo conspira
   a favor dos meus sonhos,
   a favor de nos dois.


O POETA DAS RUAS - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


    NALDOVELHO

   E tinha aquele homem que gostava
   de caminhar pelas ruas
   a distribuir em panfletos,
   pequenas histórias, poemas,
   joias preciosas, palavras,
   de um mundo que era só seu.

   A maioria dizia que ele era louco.
   Alguns poucos gostavam e agradeciam,
   para depois prosseguir
   a viver a vida que Deus lhes deu.

   Nunca mais eu soube dele,
   nem ao certo o que lhe aconteceu.

   Dizem que virou nome de rua,
   tese de mestrado ou coisa assim.

   O que eu sei ao certo,
   é quem ninguém mais se lembra
   das coisas que ele escreveu.

PEQUENA HISTÓRIA DE AMOR - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


    NALDOVELHO

   Todos os dias, manhã bem cedo,
   ela se empoleirava na janela,
   louvava o canto dos pássaros
   e agradecia a vida que Deus lhe deu.

   Já faz bem uma semana,
   parapeito entristecido
   lamenta janela fechada,
   não sabe dizer o que aconteceu.

   Mas um amigo me disse
   que de tão apaixonada que estava,
   ela de repente apassarinhou
   e amasiada com um canário
   vive hoje a vida que sempre sonhou.

   Foi louva-a-deus quem falou!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

LETRA DE MÚSICA - MADRUGADA


    http://www.recantodasletras.com.br/audios/cancoes/42444

    NALDOVELHO

    Madrugada,
    um novo dia vem
    trazendo em suas mãos
    um novo tempo.
    Um poema
    escrito pra nos dois,
    abre a janela, venha ver,
    amanheceu.

    Quero te ver colhendo sal,
    o trigo, o sonho, a luz do sol,
    quero um sorriso no teu rosto,
    quero que sejas um talismã,
    quero o aconchego do teu colo,
    quero a estrela da manhã.

    
    Quero te ver colhendo sal,
    o trigo, o sonho, a luz do sol,
    quero um sorriso no teu rosto,
    quero que sejas um talismã,
    quero o aconchego do teu colo,
    quero a estrela da manhã.
    

SUAVE IGUARIA - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


NALDOVELHO

Primeiro peguem duas pessoas, nem precisam ser especiais, bastam que estejam dispostas; servem você e eu! Depois é só abrir os olhos, os olhos de perceber as coisas que desatentos, normalmente não podemos ver. E aí, é apurar os ouvidos, aqueles que nos falam aos sentidos, pois é importante saber escutar. Pessoas têm sempre muito a dizer: muitos assuntos afins, contar sobre as suas bagagens, falar também sobre o novo, do muito que podem criar... A começar por um clima ideal, é bom saber começar!

Após, juntem uma boa pitada de esperança, uma medida e meia de sonho, duas ou três xícaras de carinho... Cuidado para não sufocar! Ou será desandar? Uma boa mexida, após adicionem um muito de cheiro, questão de química! Romance à vontade, questão de gosto! Condimentem a massa com paixão, mas tomem cuidado! Melhor controlar a mão, melhor dizendo o coração, é para não passar do ponto e a massa não ficar muito ardida, difícil de digerir. É sempre bom lembrar que nestes assuntos, é bom apurar o paladar.

Não se esqueçam do fermento para o bolo poder crescer, ficar vistoso e bonito. Se quiserem, podem acrescentar semente de trigo que é pra dar vida, para vida se perpetuar.

Continuem mexendo até dar liga, é fundamental que a massa fique consistente. Preparem então uma forma bem grande untando-a com bastante compreensão, coloquem nela a massa e levem ao forno para assar e que seja em fogo brando para não queimar o recheio. Não se assustem! Nesta receita se assa junto o recheio!

Não deixem apagar o fogo, senão o bolo fica solado e dá um desgosto danado, difícil de desentranhar! Depois é só ter paciência e sempre com muita atenção, pois existe um tempo certo de maturação.

Quando forem servir, que seja bem quente e nem é preciso confeitar, se fizerem direitinho não há como dar vexame, coisa fina de se saborear e a vida com certeza, agradecida pelo presente, desta iguaria irá se alimentar.

VERSOS CONFESSOS - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


    NALDOVELHO

   Primeiro vieram os versos,
   explícitos, confessos,
   a mostrar que o poema existe
   como conseqüência,
   descarada e evidente
   do que eu desejo de você.

   Depois a pele morena,
   os olhos verdes, premeditados,
   sorriso aberto, generoso...
   O que mais dizer?

   Perplexo, desconsertado,
   em silêncio a imaginar,
   o quanto seus seios poderiam
   nutrir meus anseios
   e o quanto o seu colo poderia
   me aconchegar.

   E a imaginação voa depressa
   a explorar outras partes,
   outras fontes, detalhes,
   recantos cálidos, secretos...

   E o seu cheiro que eu imagino,
   e o brilho da sua pele suada,
   principalmente nas coxas,
   dispostas, travessas,
   a permitir abordagens, esfregas...

   Quem sabe você se entrega?
   Quem sabe você não nega?
   Quem sabe seja bem mais que um poema?
   Quem sabe bem mais que eu possa ousar?

TANTAS PERGUNTAS - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


    NALDOVELHO

   Quantas portas e janelas deverão ser abertas
   até que eu possa apaziguar meus conflitos?

   Quantos poemas deverão ser escritos
   até que eu possa exorcizar meus ais?

   Quantas lágrimas a serem derramadas,
   até que eu possa secar meu pranto,
   soltar meu canto e cicatrizar as feridas?

   Quantas sementes terei ainda de lançar
   em terras distantes?

   Quantos frutos amargos,
   colheitas erradas, desencanto?

   Se sábia é a dor que nos ensina,
   quanto ainda vou ter que aprender
   para saber perceber no caminho
   os sinais deixados por Você?

   Por quantas existências
   ainda permanecerei a deriva
   até que a luz consiga encontrar terreno fértil
   que transforme o meu espírito inquieto
   em algo digno de Você?

   Tantas perguntas sem respostas
   no coração de um homem...

   Quantas coisas a resgatar
   para que eu possa seguir viagem
   e livre de todo este fardo
   poder retornar ao meu lar.

ODE A ESPERANÇA - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


    NALDOVELHO

   Quisera seus olhos pudessem
   trazer a paz e o conforto
   aos corações já cansados
   que hoje padecem no esforço
   de encontrar um caminho
   que irá nos levar ao Pai.

   Quisera seu olhar, criança!
   pudesse restaurar a esperança
   e semear nesta terra uma nova crença
   que trará a redenção do pecado
   e a restauração do imenso legado
   que o Criador destinou para nós.

   Quisera o seu sorriso franco
   possa ser um aviso
   que embora o dia se faça trevoso
   chegou ao término o desterro,
   pois vamos poder enfim
   retornar ao nosso lar.

   Quisera que o que hoje eu vejo
   seja a prova que tanto preciso,
   de que a renovação se dá a todo instante
   e que é uma ilusão achar que a demora
   é insuportável e nos devora,
   pois aí estaria a prova da misericórdia
   que Deus vive a nos ofertar.

   Quisera a energia que existe
   e que, de suas mãos, brota generosa,
   pudesse transformar o mundo
   e alquimizar em nós os defeitos,
   fazendo-nos melhores
   através da compreensão.

EU SOU O SENHOR DOS MEUS CAMINHOS - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


    NALDOVELHO

   Em meus caminhos
   deixo profundas marcas,
   rosas manchadas de sangue
   ao lidar com os espinhos,
   o suor da lida incessante,
   o carinho abusado do amante,
   a ternura como marca constante
   e o amor que fui capaz.
   Deixo muitos erros, escolhas,
   coisas a serem resgatadas
   em algum outro trecho da estrada,
   quanta inquietude em meus versos,
   muitas buscas, loucuras...
   Deixo em cada trecho um pedaço,
   pois meus passos em descompasso
   vão sempre em busca de novas trilhas
   para que eu possa continuar
   a escrever esta história,
   que por livre e exclusivo arbítrio,
   já faz algum tempo eu ousei.
   Deixo também a saudade
   como valioso presente,
   para que não esqueçam,
   que por aqui, um dia, eu passei. 

domingo, 20 de janeiro de 2013

METAMORFOSES - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

































NALDOVELHO

Tem dias que eu me sinto 
mar revolto a fustigar encostas 
e então modifico paisagens 
por todos os cantos e lados, 
recantos deste meu lugar.

Tem dias que eu me sinto 
tempestade, céu escuro e nublado, 
horizonte sombrio, pouca visibilidade; 
como se algo dentro de mim se pusesse 
a gritar a dor que a transformação me traz.

Tem dias que eu me sinto 
vento varrendo da cidade 
as sobras deixadas pelo tempo, 
tirando do cenário a poeira 
segmentada por anos de solidão.

Tem dias que eu viro pedra 
e sofro com a inquietude dos ventos, 
e com as águas de um rio barrento, 
e vejo meu corpo pouco a pouco, 
sendo desgastado, sem nada poder fazer.

Tem dias que eu sou 
embarcação no açoite, 
a navegar contra as correntes 
em busca de porto seguro, 
onde eu possa enfim encontrar a paz.

Tem dias que eu me sinto 
caminho acidentado, 
alguns poucos abrigos, pousadas, 
que eu penso seguras para o viajante, 
na jornada em direção ao seu lar.

Tem dias que eu sou andarilho 
a vagar por entre enredos vividos 
e o que ficou foi só a saudade, 
que às vezes eu chamo de esperança 
de um dia poder Te reencontrar.

TEM DIAS - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS



Tem dias que eu acordo limão galego, com a cara feia de dar medo e fico rosnando para as pessoas que passam desavisadas pelo meu raio de ação. Mais pareço fio desencapado, dou choque pra todo o lado e apesar de ficar calado, fuzilo com os olhos o atrevido que insistir em incomodar minha solidão.

São dias de desterro, de recolhimento compulsório e de descrença no meu futuro. Costumo ficar no escuro, deitado em meu leito, sentindo uma coisa estranha, uma ardência danada no peito, sem ânimo, apetite ou desejo... Melhor que houvesse um botão para desligar de mim a existência, cair no vazio, no nada, pois até o pensamento constrange-me o coração.

Mas, como por encanto, ato de Deus ou coisa assim, surge em meu corpo uma energia, um calor e um desassossego que faz com que eu entorne o meu pranto, em lágrimas secas, poemas a materializar problemas, coisas que eu nem percebia e que viviam entranhadas, estranhas dentro de mim. Dores, chagas, lamentos, situações não resolvidas que ao serem expostas feridas, deixam de afligir-me a alma.

É então que tudo se acalma e eu me percebo num sorriso irônico e abusado, pois não foi dessa feita que a vida deixou de valer a pena.

E aí eu me ponho a orar, agradecido por ser um poeta e, assim sendo, conseguir dissolver sentimentos cristalizados e por ser capaz de, com os meus versos, construir em mim mesmo um ser cada vez mais inteiro que ao ter a coragem dos loucos e a inquietude de poucos, consegue através da palavra, submergir da loucura de viver em busca da compreensão.

NALDOVELHO


BASTA SABER DESEMBRULHAR - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS



Sem que eu soubesse explicar o porquê, o dia amanheceu ensolarado, pássaros agitados num céu azul cristalino, descaradamente iluminado e a janela do meu quarto, escancarada, a tudo assistia, e concedia, e permitia, como se quisesse mostrar que o amanhecer desconhece minhas verdades e malcriadamente desobedece minha vontade.

Uma suave brisa a invadir o quarto, um cheiro agradável e até certo ponto nostálgico. Um café recém-passado a afugentar a preguiça, testemunha evidente de uma noite mal dormida e assombrada pela insônia, companheira de tantos e tantos anos.

Lavar o rosto, escovar os dentes... Um banho até que cai bem! Caminhar um pouco, dar uma volta no Horto, admirar as plantas, algumas preguiçosas, outras exuberantes... Quem sabe eu aprenda um pouco? Quem sabe num passe de mágica eu possa voltar a ter sete, oito anos e a minha inocência de volta? Pois trilhar tudo de novo é coisa que não me assusta e certamente eu faria de outro jeito para que a dor que hoje me habita não se fizesse mais presente. E é claro! Seriam novas escolhas, caminhos diferentes.

Tão bom se houvesse esse novo dia, e eu pudesse reinventar a alegria e não ser mais um poeta! Poderia, então, ser um pintor de muitos matizes, de belas e iluminadas imagens, que nos mostrassem que o raiar de outro dia é a mais concreta garantia de que o novo é sempre um bom presente, basta saber desembrulhar.

NALDOVELHO