terça-feira, 30 de outubro de 2012

sábado, 20 de outubro de 2012

AINDA FALTA UM POEMA (LUZ E SOMBRAS)


    NALDOVELHO

   Eu tenho uma garrafa de conhaque
   pra baixo da metade, faz tempo, guardada,
   já nem me lembro do último gole,
   mas lembro bem a dor que eu senti.

   Eu tenho um monte de portas,
   algumas, faz tempo, abertas,
   outras, já nem lembro há quanto tempo trancadas, 
   não permitem que eu saia daqui.

   Eu tenho um monte de palavras
   poemas rascunhados guardados,
   alguns falam do amor que eu perdi,
   outros, do amor que eu não vivi.

   Eu tenho um monte de assuntos inacabados,
   coisas mal resolvidas, coito interrompido,
   sentimento de clausura, loucura,
   vez em quando ainda minto e me ponho a sorrir.

   Eu tenho em meu quarto uma única janela,
   e por ela eu vejo o dia que passa,
   a noite e a madrugada...
   E já se passaram tantas depois que eu me perdi.

   Eu tenho uma música inacabada,
   uma tapeçaria empoeirada, 
   um gesto abortado, um pálido aceno,
   poema de adeus que eu não escrevi.  

sábado, 6 de outubro de 2012

ESTADO DE DERRAMAMENTO (LUZ E SOMBRAS)


    NALDOVELHO

   Existe um estado de derramamento,
   próprio dos que são solitários por dentro
   e sabem que uma vida só não se basta,
   precisa de outras para poder amanhecer.

   Para este estado de derramamento
   que amplia os limites da alma,
   o Verbo carinhosamente
   inventou a palavra sonhador.

   Existe um estado de derramamento,
   próprio dos que têm asas por dentro
   e sabem que uma só vida é quase nada,
   precisa de outras para poder florescer.

   Para este estado de derramamento
   que enlaça fios de almas,
   o Verbo por pura delicadeza
   inventou a palavra amor.